As diferenças de formação do Síndico Profissional e do Síndico Orgânico morador
Por Luccia E. Vellozo, membro da Associação Brasileira de Psicopedagogia, especialista em Orientação e Estruturação Profissional.
Gerir um condomínio exige preparo técnico e emocional. O síndico profissional recebe formação por meio de cursos de extensão, técnicos ou pós-graduação, abordando legislação condominial, administração, gestão financeira e técnicas de mediação de conflitos. Já o síndico orgânico (morador eleito), com raras exceções, aprende no exercício da função sem uma formação específica lidando com desafios de forma intuitiva.
A principal diferença entre ambos está na base de conhecimento: enquanto o síndico profissional tem preparo prévio, o orgânico depende da experiência prática. O síndico profissional geralmente atua em vários condomínios e adota uma abordagem imparcial, enquanto o orgânico tem vínculos pessoais com moradores, o que pode dificultar decisões impopulares. Assim, observa-se algumas diferenças a seguir:
- FINANCEIRO – Síndico Profissional/Capacitado: Tem conhecimento sobre prestação de contas e as técnicas de apresentação em assembleia. É maior a assertividade da previsão orçamentária, pois lhe é familiar às necessidades do condomínio ao longo da próxima gestão. Síndico Morador/Orgânico/Sem Capacitação: Utiliza a prestação de contas montada pela empresa auxiliar de administração condominial sem ter o domínio das informações e sem uma apresentação ampla em assembleia. É maior o risco de não haver uma previsão orçamentária adequada ao condomínio, pois não tem alcance de conhecimento às necessidades futuras da gestão.
- MANUTENÇÕES – Síndico Profissional/Capacitado: Sabe as demandas que envolvem o condomínio, assim como as periodicidades, os valores de mercado, a necessidade de realização e urgências, as possibilidades de negociação e as manutenções em si. Síndico Morador/Orgânico/Sem Capacitação: Depende da empresa auxiliar de administração condominial para orientá-lo quanto às periodicidades, aos valores de mercado, à necessidade de realizar as manutenções, às urgências, às contratações e aos tipo de manutenção.
- RELACIONAMENTO – Síndico Profissional/Capacitado: É imparcial nas tomadas de decisão. Não atua realizando favorecimentos. Respeita os moradores e acolhe suas demandas sem se envolver emocionalmente. Evita fofocas. Síndico Morador/Orgânico/Sem Capacitação: Toma as decisões com certa parcialidade. Tem seus favoritos no condomínio. Não sabe acolher os moradores. Acaba se envolvendo emocionalmente com as demandas, inclusive em fofocas sobre seus vizinhos.
- COMPLIANCE – Síndico Profissional/Capacitado: Sua atuação se dá em conformidade com as normas e com a ética anticorrupção, evitando negociações sem notas fiscais e RPAs, realizando a due diligence para ter informações sobre a empresa a ser contratada e confere transparência aos seus atos de gestão. Síndico Morador/Orgânico/Sem Capacitação: Atua sem conhecimento às normas e sem diretrizes de atuação, realizando negociações com empresas e autônomos com recibos simples, deixando de conferir a integridade da empresa a ser contratada e dando preferência para conhecidos/parentes e realizando a gestão sem dar publicidade de todos os atos ao condomínio.
- TEMPO DE TRABALHO – Síndico Profissional/Capacitado: Possui horários de trabalho definidos, como horário comercial. Em situações de urgências, tem regras bem claras para o atendimento ao condômino e ao morador. Pode contar com sua equipe com definição de plantão. Tem estratégias de gestão de tempo, o que lhe proporciona maior bem-estar e qualidade de vida. Síndico Morador/Orgânico/Sem Capacitação: Por morar no condomínio acaba incluindo a atuação como síndico nos horários de descanso e alimentação, o que atrapalha a qualidade de vida, o bem-estar e a reposição de energia. Pode não saber distinguir o que é urgência ou não, atendendo os moradores e condôminos a qualquer tempo. Não possui equipe de atendimento e depende da disponibilidade da empresa auxiliar de administração condominial. Carece de conhecimento sobre técnicas de gestão de tempo e acaba vivendo as demandas sobre técnicas de gestão de tempo e acaba vivendo as demandas (ver com o autor sobre essa linha).
- LABOR – Síndico Profissional/Capacitado: A sindicatura é seu labor, ou seja, considerada seu trabalho e, portanto, está sempre em busca de qualificação. Dedica seu tempo ao condomínio com trabalhos de gestão, seja em seu escritório ou no local do condomínio. Síndico Morador/Orgânico/Sem Capacitação: A sindicatura não é seu trabalho principal e, portanto, dificilmente procura capacitação e conhecimento específicos. Seu tempo é limitado e restrito ao período fora do trabalho. Seu foco não é a sindicatura.
Atualmente um diferencial é trabalhar a inteligência emocional, que segundo Daniel Goleman, é fundamental para ambos os tipos de síndico, pois contribui na gestão de conflitos, no controle emocional e na comunicação eficaz. Por isso, muitos buscam o acompanhamento terapêutico para aprimorar-se.
Além das diferenças de formação entre os síndicos, existem crenças sobre sua atuação. A ideia de que o síndico morador é melhor por estar sempre presente não garante maior dedicação nem eficiência na resolução de problemas. E de presumir que ele seja mais acessível, o que não significa disponibilidade ininterrupta. Por isso, é fundamental esclarecer essas e outras crenças sobre o papel do síndico.
A qualificação do gestor impacta diretamente na qualidade da administração condominial. O acompanhamento terapêutico, ao integrar essa formação, contribui para uma gestão mais eficiente e equilibrada, promovendo o bem-estar da comunidade. A transição do síndico orgânico para um modelo profissional exige uma mudança de mentalidade e formação específica. Enquanto o síndico profissional desenvolve competências técnicas desde o início, o síndico orgânico precisa se adaptar às novas demandas da gestão condominial, que se tornam cada vez mais complexas com a evolução do setor.
Os desafios fazem parte da rotina profissional, por isso aqui neste espaço busca-se um ponto de partida para provocar novas reflexões. Incluindo, um olhar mais prático, o que veremos nas próximas edições.
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